segunda-feira, 9 de outubro de 2017

AFRICANIDADE NO RAUL

Num dia de intervalo de recreio, a direção da Escola pediu que aguardássemos alguns minutos antes de voltar para sala de aula. A dinâmica de nosso dia a dia vai nos fazendo pensar em questões comuns a qualquer escola pública hoje: O que será que aconteceu? No entanto, o intervalo transcorreu normalmente, mas ficava aquela curiosidade: Será que teremos reajuste? Algum aluno? A notícia do colega que não veio? Algum decreto? Não?

Não é uma tarefa fácil dirigir uma escola e seus atores. Desafios surgem e estes personagens fundamentais tem responsabilidade de garantir participação e democracia para que a escola avance, evolua e sustente a exigência de um espaço pedagógico e libertário. Juliana Silva, Juliana Melo e Túlio Marco são esses personagens que juntos abraçam as propostas do coletivo e com uma boa dose de um combustível necessário em nosso fazer: o entusiasmo.
Naquele dia o Professor Luiz nos apresentou uma proposta de projeto que seria desenvolvido com todo o corpo discente no objetivo de interagir, refletir, discutir e viabilizar ações concretas que pudessem minimizar o impacto das notícias de intolerância e sobretudo, entender o termo “Africanidade” através de um trabalho que tocasse  os colegas na perspectiva de outros trabalhos capazes de direcionar o debate das relações entre pessoas de diferente pertencimento étnico-racial, trazendo o respeito em primeiro plano e a reflexão sobre posturas preconceituosas que intermeiam nosso cotidiano.

Esta ação educativa proposta pelo Professor Luiz não só instigava a vontade de fazer inerente à Equipe da Escola Raul Saraiva, como fazia também pensar na temática da educação para as relações étnico raciais nos currículos da educação básica brasileira.

A gente lembrava do que já dialogamos sobre a Lei 10.639/03, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, incluindo no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”.

O Parecer CNE/CP nº 03/04, propõe e define as diretrizes que incluem, nos currículos das instituições de ensino, que atuam nos variados níveis e modalidades da educação brasileira, conteúdos e atividades curriculares relativos à educação das relações étnico-raciais. (OLIVEIRA, 2012).

Assumir a responsabilidade de tratar de um assunto na intenção de ultrapassar limites de ações e possibilitar aos nossos alunos a compreensão das diferentes formas de opiniões, ações e pensamentos, é uma ação de coragem suscitada pela indignação que nos perpassa o dia a dia. São atitudes de intolerância insufladas pelas mídias em questão, a ponto de nos deixar inquietos num pensamento difuso. É necessário parar, refletir, tomar ações em nosso espaço de trabalho e de alguma forma contribuir na formação de outros olhares ao ser humano.

Voltamos para sala de aula e o Professor Luiz já concretizava suas ações sensibilizando os colegas, estudantes, funcionários e a comunidade escolar da dimensão do assunto que se abriria sobre um espaço de fazeres diários e livres.

A abertura do projeto aconteceu em 06 de outubro. Novamente um tom mágico começa invadir aquele espaço em várias tonalidades da diversidade étnica, cultural e linguística. Eram 9:30 horas daquele dia e nos direcionávamos à Sala de Professores numa quantidade e variedade de expressões rítmicas, que não tinha como não balançar o corpo. 

Uma música profunda e variada entoava nosso intervalo naquele dia. Para todo lado que se olhava era um balanço diferente, um corpo diferente, um professor diferente, uma professora diferente, funcionários diferentes, um estudante diferente, um trabalho diferente, manifestações diferentes, tons diferentes... E todos iguais!

A música da África é tão ampla e variada como as muitas regiões da África. Eram frutos caindo de nossas imensas árvores, naquele jardim imenso em  distintas nações e grupos étnicos africanos que logo depois foram adentrando a quadra de esportes do Raul.

Num primeiro momento houve a fala da Direção da Escola através do Vice Diretor Túlio Marco, da Vice Diretora Juliana Melo e do Corpo Pedagógico postado na voz de Alfredo Johnson a convidar o Professor Luiz para apresentar os trabalhos e lideranças negras de Betim a participar da introdução do Projeto.
O Professor Luiz pronunciou ao coletivo sobre os objetivos e nossas raízes africanas, um patrimônio musical específico ajuntando a história e desenvolvimentos dos trabalhos que foram efetuados em sala de aula.
Durante a abertura do Projeto, todos puderam acompanhar intervenções artísticas, como uma apresentação de instrumentos africanos através de Hernany Lisardo e a performance da dançarina Girlayne numa coreografia africana de empréstimos e influências recíprocas.

Hernany Lisardo e Girlayne
Estudantes dos Sextos Anos fizeram uma homenagem ao Professor Luiz com a participação do Professor Lázaro Mariano, Professora Shirley, o apoio dos Professores Bebeto e Gilson. ( Vejam no vídeo abaixo)
Registros da Professora Caticilene e da Vice Diretora Juliana Melo em ângulos diferentes na visão e tempo de cada uma e de outros professores que registravam, diziam um pouco de quem o faz, dos recursos, da importância do momento. O que se capta em tempo de tanta intolerância dando a possibilidade dessa visão aos estudantes em sua formação humana.

A Professora Éden e o Professor Francisco se enveredaram a construir um tapete africano da  “DIVERSIDADE” em forma de painéis e um cenário que nos transportava a outros tempos. (Vídeo abaixo)
Os estudantes desfilavam, cantavam e aquele momento nos proporcionava situações de aprendizagem reais e diversificadas.

Estudantes do Sétimo ano. Ao fundo, Professor Gilson, Professora Cátia e Professor Fause.

Professoras Eddya, Lorena e Elque ao fundo, em frente alunos do PS1,  PS2 (Endreck, Rayane, Luiza, Samara, Érick, Daniel e Lucas) e Sétimos.

Estudantes se preparam para o desfile, junto aos professores: Gilson, Cleide, Cátia, Juliana, Fany, Nadir e funcionários.
Acreditamos que nossos trabalhos com foco na criticidade, participação e solidariedade de nossos alunos irá contribuir na relação destes com outras pessoas em suas vivências.

A intensão desses trabalhos vinculados às raízes da cultura brasileira diz da forma em que o professor quer se reportar ao mundo em seu modo de ser, de viver, de organizar suas lutas, de entender o povo brasileiro em toda dimensão da formação de sua história.

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