sábado, 17 de março de 2018

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS


EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS / DEPOIMENTO COMOVENTE DA ESTUDANTE CARMELITA À PROFESSORA INÊS DO EJA - 3º TURNO DO RAUL SARAIVA
Por Lázaro Mariano.




Apesar de ser um Programa criado em 1970 e eu apenas ter 2 anos de idade, quando entrei para Escola, logo no Primário já se ouvia falar do MOBRAL. Era uma forma do regime militar no Brasil, na época o General Garrastazu Médici, (Presidente mais "CARRASCO" da história do Brasil) de controlar os programas de alfabetização.

Tinham como objetivo defender seus próprios interesses para que se pudesse dominar o país sem interferência do povo. Sob a falácia de erradicar com o analfabetismo apenas se preocupavam com que os alunos aprendessem a ler e escrever. A formação humana não lhes fazia nenhum sentido conforme as intenções como regulavam o país.

Junto ao Golpe Militar de 64 se instituía essa pretensão com uma mão forte e repressora, assim como é feito hoje, em 2018, quando os militares não obedecem limites em utilizar os meios de comunicação para enganar a população. Na época tinham como colaboradores os cantores  Dom e Ravel, com a música que tem por título: “Você também é responsável”:


Dom e Rave, colaboradores do Golpe Militar de 64 e agitadores das divulgações do MOBRAL no Brasil com o propósito de manipular os pobres brasileiros.
Eu venho de campos, subúrbios e vilas,
Sonhando e cantando, chorando nas filas,
Seguindo a corrente sem participar,
Me falta a semente do ler e contar

Eu sou brasileiro anseio um lugar,
Suplico que parem, prá ouvir meu cantar

Você também é responsável,
Então me ensine a escrever,
Eu tenho a minha mão domável,
Eu sinto a sede do saber

Eu venho de campos, tão ricos tão lindos,
Cantando e chamando, são todos bem vindos
A nação merece maior dimensão,
Marchemos prá luta, de lápis na mão

Eu sou brasileiro, anseio um lugar,
Suplico que parem, prá ouvir meu cantar




Alguns cantores colaboraram com ditadura nessa época e assim prejudicaram a educação pública no que se refere a formação humana, uma alfabetização crítica como é feita na Escola Municipal Raul Saraiva Ribeiro.

Roberto Carlos também participou dessa época como funcionário de Ministério da Educação e Cultura.

“Nos anos de chumbo, ele foi condecorado com a Medalha do Pacificador, ocupou cargos em conselhos do governo, livrou-se da censura com a ajuda do ministro da Justiça e foi contratado pelo Exército para atuar em inúmeros shows em homenagem à Revolução.

Roberto Carlos é condecorado pelo general Humberto de Souza Mello (acima). Ele foi listado entre “artistas que se uniram à Revolução” (Foto: Folhapress)
Embora sempre tenha levado uma carreira de empresário paralela à de músico – na época da ditadura, ele tinha boate, postos de gasolina e uma locadora de automóveis –, a rádio foi um negócio bastante vantajoso, já que não teve de pagar nem um centavo pela concessão.

Roberto Carlos já era funcionário do Ministério da Educação e Cultura quando os militares tomaram o poder, em 1964. Tinha 23 anos e trabalhava como assistente de relações-públicas na rádio MEC, no Rio de Janeiro.” Roberto Carlos em ritmo de ditadura

Como, no auge de suas boas relações com o regime militar, o cantor ganhou a concessão de uma rádio em 1979. (Fonte: epoca.globo.com Marcelo Bortolotti - 04/04/2014)

Como hoje, o futebol naquela época era um forma de manipulação usado pelos militares, formar o ser humano crítico, consciente de seus direitos e deveres era uma verdadeira afronta ao Regime Militar.

Garrastazu Médici com o troféu da Seleção Brasileira na década de 70
Até Pelé, então maior atleta em atividade do planeta, chegou a visitar o general Emílio Garrastazu Médici, presidente entre outubro de 1969 e março de 1974.

Aqui toda a delegação com o ditador.
Na verdade o MOBRAL era IRRESPONSÁVEL e jogava a responsabilidade em cima do povo com a ideia de que você também seria responsável pelo país se soubesse ler e escrever, todavia a repercussão através dessa dupla e mais alguns artifícios deixaram os analfabetos e jovens de baixa escolaridade da época se sentindo culpados " por eles próprios não terem conseguido estudar". Essa pessoas viraram motivo de zombarias na época e sentiam receio em procurar a escola. Tenho uma imã professora que relatava o quanto tinham a auto estima baixa por causa dessas questões.

Educadores como PAULO FREIRE eram perseguidos pois o método de Alfabetização que ele defendia na época desse anos de chumbo,  não corroborava com o tipo de política de manipulação, como hoje se vê através da grande mídia.

Com este mesmo tipo de atitude em golpes consecutivos, chamada de “Quarto Poder”, a mídia golpista tem usado fake news para censurar veículos independentes e manipular os brasileiros ainda agora em 2018.

Paulo Freire,  lutava pela minimização do analfabetismo no Brasil  e no mundo, por isso foi considerado subversivo pelo Regime Militar e com sua proposta  de "pedagogia da libertação" acabou sendo exilado.

Por isso é que o MOBRAL foi criado e propositalmente havia pouco investimento na educação pública o que aumentou a construção de escolas privadas.

Como de praxe para difundir a ideologia, os Militares excluíram disciplinas que tratavam de questões sociais e despertavam o pensamento crítico, como a sociologia e a filosofia. Hoje isso está acontecendo a olhos vistos, em pleno século XXI.

Tratavam de garantir disciplinas que enlevassem o tema "ordem e o progresso" , com “Moral e Cívica”, a “Organização Política” com a disciplina “OSPB” - "Organização Social e Política Brasileira".

A ditadura militar destruía o ensino público fundamental e médio ( antes segundo grau),  o ensino superior sofreu alterações, as universidades eram afastadas dos centros urbanos, para evitar aglomerações , não haviam universidades nos interiores do Brasil. Aqueles que conseguiam chegar ao “Colégio”, o segundo fundamental, tinham que passar por uma prova chamada “ADMISSÃO”. Esse era um processo de exclusão da época. Aqueles que conseguissem chegar ao Ensino Médio ( Segundo Grau) se fossem pobres não tinham a oportunidade de continuar seus estudos. Assim como os mais velhos que por problemas políticos recorrentes tiveram que suportar o MOBRAL, mais tarde aconteceria essa exclusão aos jovens pobres da década de 70 e final de 80.

O termo MOBRAL  tornou-se uma gíria e as pessoas quando pretendiam se referir a alguém como ignorante, usava esse termo pejorativamente para  ridiculizar e ofender que não teve acesso a educação informal por falta de oportunidades, logicamente as pessoas mais pobres.

Estratégias para dispersar os estudantes e não criar grupos, tudo para fazê-los permanecer calados, ainda eram ameaçados com a tortura.

Professor Paulo Freire, nosso pioneiro na Pedagogia da Libertação

O PROFESSOR PAULO FREIRE EM BETIM E O SEU MÉTODO NO INÍCIO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO MUNICÍPIO.

No método de Freire as aulas de Geografia eram inseridas no contexto dos estudantes, com palavras como barraco, favela, barrancos, córregos, enchentes, lixos. As questões sociais eram tratadas em temas como  fome, miséria, arroz com feijão, a Matemática para compor os preços, ênfase para o salário mínimo e desemprego.


Paulo Freire em Betim na década de 90
Os mais jovens não trabalhavam e precisavam receber o diploma do curso para poder preencher uma ficha de emprego e começar a trabalhar.

Na década de 90 em Betim, fomos convidados a participar da implantação da “SUPLÊNCIA” – Educação de Jovens e Adultos, modalidade regular de ensino nas unidades escolares, com professores efetivos na Rede – e o PROSA (Programa Suplementar de Alfabetização).

COMO COMEÇOU EM BETIM


Em 1995, Betim deu início ao Projeto de Educação de Jovens e Adultos (Suplência de 5a. a 8a. série), como eixos o processo de ação – reflexão – ação da prática educativa; a inclusão de jovens e adultos como sujeitos na relação ensino aprendizagem; o trabalho coletivo e a formação continuada dos educadores.

foi extinta a suplência e implantou-se o CEEA - Ciclo Especial de Ensino Aprendizagem. Posteriormente, essa sigla foi alterada para CEAN – Ciclo de Ensino Aprendizagem Noturno.

A partir de 2000 foi definido o referencial curricular para o CEAN II – O Currículo por Competências.

A partir de 2001 foi implementando o  CEAN I (Ciclo de Aprendizagem Noturno 1º segmento).

Em agosto de 2002, o Programa de Ensino para Jovens e Adultos (PROEJA) iniciou seu atendimento em razão de dados apresentados pela equipe de coordenação dos assistidos da Bolsa – Escola.

No CENSO/2000, informava 18.000 habitantes betinenses analfabetos na faixa etária acima de 10 anos, o maior desafio acordado nesta parceria foi atingir a meta de 20.000 jovens e adultos atendidos.

O Programa ABC, que inclui PROEJA e CEAN I atendiam estudantes em 2002, em 2003, em 2004 e em 2005.

Em 2002 foi criado o CEAN II - Ciclo de Ensino e Aprendizagem Noturno / 2º Segmento.
A partir de 2004, em escolas municipais, como sede de segundo endereço, ficando o Estado responsável pela gestão pedagógica, a parceria com o Estado era ampliar o atendimento do Ensino Médio no município.

Assim, surgem, na Constituição Federal, artigos mais explícitos sobre a EJA (CF, art. 208, § 1º), atribuindo a competência aos poderes públicos no que diz respeito à disponibilização de recursos para atender a essa modalidade de ensino.
perspectiva de atender este público e universalizar a oferta de educação básica no município, a Prefeitura de Betim estabeleceu parceria com a Rede Estadual de Ensino para implementar, em algumas escolas, o ensino médio na modalidade de EJA, ampliando a sua oferta.

A Secretaria Municipal de Educação (Semed) continua, em 2007 com o programa de Ensino Noturno gratuito para jovens e adultos moradores de Betim.

O DIA DO DEPOIMENTO DE CARMELITA

Professor Inês e a Estudante Carmelita
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é disponibilizada na Escola Municipal Raul Saraiva Ribeiro como oportunidade de conclusão do Ensino Fundamental para quem não teve a oportunidade de fazer antes.

O carinho e satisfação com que a Estudante Carmelita se refere à Professora Inês foi tão comovente que muitos Professores, Técnicos, colocaram seu depoimento dado o entusiasmo e a competência da Alfabetizadora.

Sempre há tempo!  Através desse depoimento da estudante da aluna Carmelita do EJA da Escola Raul Saraiva qualquer Professor ou colega de Curso a perceber a beleza. Nossa Vice Diretora Juliana Melo se refere ao depoimento como uma lindeza que recebeu naquele dia, parabenizando a Professora Inês pelo êxito no trabalho de Alfabetização de Jovens e Adultos, pela dedicação e paciência. Um saber que tem sabor.


As colegas produzindo.
Thiago Fortes, nosso Técnico de Secretaria se referiu ao depoimento de Carmelita como “um show”, acrescentando que essas coisa que fazem o trabalho valer a pena e também parabeniza a Professora Inês.

A professora Cleide diz de tal lindeza e da inexistência de qualquer saber melhor que esse. A professor Inês agradece e direciona o mérito aos alunos, pelo grande esforço e dedicação. Ela acrescenta que se sente muito feliz com o progresso dos estudantes.

A Professora Cláudia, ex-Sala de Recursos do Raul, resumiu: “Emocionante! É lindo!

Participei de tanto deslumbramento acrescentando: “ Que maravilha! Que coisa magnífica! Tinha que ter mais investimento na EJA. Que lindo!”

A Estudante Carmelita entendo sua formação humana no Raul Saraiva e agradecida com a Professora Inês.
Inês reconheceu a falta de investimento e ainda embebida do depoimento emocionante da Estudante Carmelita dizia do trabalho gratificante. Na conversa o lembrei de meu trabalho de 96 a 2001 com Jovens e Adultos, lembrando de outros depoimentos e das trocas de experiências mensais no Clube Rodoviário em Betim.


AS REPERCUSSÕES E MULTIPLICAÇÃO DE NOSSOS TRABALHOS COM EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS.

Tese da Professora Ana Rafaela Correia Ferreira que trata de nosso trabalho na década de 90 e todo o processo histórico da Educação de Jovens e Adultos em Betim.

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