EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS / DEPOIMENTO COMOVENTE DA ESTUDANTE CARMELITA À PROFESSORA INÊS DO EJA - 3º TURNO DO RAUL SARAIVA
Por Lázaro Mariano.
Apesar
de ser um Programa criado em 1970 e eu apenas ter 2 anos de idade, quando
entrei para Escola, logo no Primário já se ouvia falar do MOBRAL. Era uma forma
do regime militar no Brasil, na época o General Garrastazu Médici, (Presidente mais "CARRASCO" da história do Brasil) de controlar
os programas de alfabetização.
Tinham
como objetivo defender seus próprios interesses para que se pudesse dominar o país
sem interferência do povo. Sob a falácia de erradicar com o analfabetismo
apenas se preocupavam com que os alunos aprendessem a ler e escrever. A formação
humana não lhes fazia nenhum sentido conforme as intenções como regulavam o país.
Junto
ao Golpe Militar de 64 se instituía essa pretensão com uma mão forte e
repressora, assim como é feito hoje, em 2018, quando os militares não obedecem limites em utilizar os
meios de comunicação para enganar a população. Na época tinham como colaboradores os
cantores Dom e Ravel, com a música que
tem por título: “Você também é responsável”:
Eu
venho de campos, subúrbios e vilas,
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Dom e Rave, colaboradores do Golpe Militar de 64 e agitadores das divulgações do MOBRAL no Brasil com o propósito de manipular os pobres brasileiros. |
Sonhando
e cantando, chorando nas filas,
Seguindo
a corrente sem participar,
Me
falta a semente do ler e contar
Eu
sou brasileiro anseio um lugar,
Suplico
que parem, prá ouvir meu cantar
Você
também é responsável,
Então
me ensine a escrever,
Eu
tenho a minha mão domável,
Eu
sinto a sede do saber
Eu
venho de campos, tão ricos tão lindos,
Cantando
e chamando, são todos bem vindos
A
nação merece maior dimensão,
Marchemos
prá luta, de lápis na mão
Eu sou brasileiro, anseio um lugar,
Eu sou brasileiro, anseio um lugar,
Suplico
que parem, prá ouvir meu cantar
Alguns cantores colaboraram com ditadura nessa época e assim prejudicaram a educação pública no que se refere a formação humana, uma alfabetização crítica como é feita na Escola Municipal Raul Saraiva Ribeiro.
Roberto Carlos também participou dessa época como funcionário de Ministério da Educação e Cultura.
“Nos anos de chumbo, ele foi condecorado com a Medalha do
Pacificador, ocupou cargos em conselhos do governo, livrou-se da censura com a
ajuda do ministro da Justiça e foi contratado pelo Exército para atuar em
inúmeros shows em homenagem à Revolução.
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Roberto Carlos é condecorado pelo general Humberto de Souza Mello (acima). Ele foi listado entre “artistas que se uniram à Revolução” (Foto: Folhapress) |
Embora sempre tenha levado uma carreira de empresário
paralela à de músico – na época da ditadura, ele tinha boate, postos de
gasolina e uma locadora de automóveis –, a rádio foi um negócio bastante
vantajoso, já que não teve de pagar nem um centavo pela concessão.
Roberto Carlos já era funcionário do Ministério da Educação
e Cultura quando os militares tomaram o poder, em 1964. Tinha 23 anos e
trabalhava como assistente de relações-públicas na rádio MEC, no Rio de
Janeiro.” Roberto Carlos em ritmo de ditadura
Como, no auge de suas boas relações com o regime militar, o
cantor ganhou a concessão de uma rádio em 1979. (Fonte: epoca.globo.com Marcelo Bortolotti - 04/04/2014)
Como hoje, o futebol naquela época era um forma de manipulação usado pelos militares, formar o ser humano crítico, consciente de seus direitos e deveres era uma verdadeira afronta ao Regime Militar.
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Garrastazu Médici com o troféu da Seleção Brasileira na década de 70 |
Até Pelé, então maior atleta em atividade do planeta, chegou a visitar o general Emílio Garrastazu Médici, presidente entre outubro de 1969 e março de 1974.
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Aqui toda a delegação com o ditador. |
Na
verdade o MOBRAL era IRRESPONSÁVEL e jogava a responsabilidade em cima do povo
com a ideia de que você também seria responsável pelo país se soubesse ler e escrever,
todavia a repercussão através dessa dupla e mais alguns artifícios deixaram os analfabetos e jovens de baixa escolaridade da época se sentindo culpados " por eles próprios não terem conseguido estudar". Essa pessoas viraram motivo de zombarias na época e sentiam receio em procurar a escola. Tenho uma imã professora que relatava o quanto tinham a auto estima baixa por causa dessas questões.
Educadores como PAULO FREIRE eram perseguidos pois o método de Alfabetização que ele defendia na época desse anos de chumbo, não corroborava com o tipo de política de manipulação, como hoje se vê através da grande mídia.
Educadores como PAULO FREIRE eram perseguidos pois o método de Alfabetização que ele defendia na época desse anos de chumbo, não corroborava com o tipo de política de manipulação, como hoje se vê através da grande mídia.
Com
este mesmo tipo de atitude em golpes consecutivos, chamada de “Quarto Poder”, a
mídia golpista tem usado fake news para censurar veículos independentes e
manipular os brasileiros ainda agora em 2018.
Paulo
Freire, lutava pela minimização do
analfabetismo no Brasil e no mundo, por
isso foi considerado subversivo pelo Regime Militar e com sua proposta de "pedagogia da libertação" acabou
sendo exilado.
Por
isso é que o MOBRAL foi criado e propositalmente havia pouco investimento na
educação pública o que aumentou a construção de escolas privadas.
Como
de praxe para difundir a ideologia, os Militares excluíram disciplinas que
tratavam de questões sociais e despertavam o pensamento crítico, como a
sociologia e a filosofia. Hoje isso está acontecendo a olhos vistos, em pleno
século XXI.
Tratavam
de garantir disciplinas que enlevassem o tema "ordem e o progresso" ,
com “Moral e Cívica”, a “Organização Política” com a disciplina “OSPB” - "Organização
Social e Política Brasileira".
A
ditadura militar destruía o ensino público fundamental e médio ( antes
segundo grau), o ensino superior sofreu
alterações, as universidades eram afastadas dos centros urbanos, para evitar
aglomerações , não haviam universidades nos interiores do Brasil. Aqueles que
conseguiam chegar ao “Colégio”, o segundo fundamental, tinham que passar por
uma prova chamada “ADMISSÃO”. Esse era um processo de exclusão da época.
Aqueles que conseguissem chegar ao Ensino Médio ( Segundo Grau) se fossem
pobres não tinham a oportunidade de continuar seus estudos. Assim como os mais
velhos que por problemas políticos recorrentes tiveram que suportar o MOBRAL,
mais tarde aconteceria essa exclusão aos jovens pobres da década de 70 e final
de 80.
O
termo MOBRAL tornou-se uma gíria e as
pessoas quando pretendiam se referir a alguém como ignorante, usava esse termo pejorativamente
para ridiculizar e ofender que não teve
acesso a educação informal por falta de oportunidades, logicamente as pessoas
mais pobres.
Estratégias
para dispersar os estudantes e não criar grupos, tudo para fazê-los permanecer
calados, ainda eram ameaçados com a tortura.
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Professor Paulo Freire, nosso pioneiro na Pedagogia da Libertação |
O
PROFESSOR PAULO FREIRE EM BETIM E O SEU MÉTODO NO INÍCIO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS
E ADULTOS NO MUNICÍPIO.
No
método de Freire as aulas de Geografia eram inseridas no contexto dos estudantes,
com palavras como barraco, favela, barrancos, córregos, enchentes, lixos. As
questões sociais eram tratadas em temas como fome, miséria, arroz com feijão, a Matemática
para compor os preços, ênfase para o salário mínimo e desemprego.
Os
mais jovens não trabalhavam e precisavam receber o diploma do curso para poder
preencher uma ficha de emprego e começar a trabalhar.
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Paulo Freire em Betim na década de 90 |
Na década de 90 em Betim, fomos convidados a
participar da implantação da “SUPLÊNCIA” – Educação de Jovens e Adultos, modalidade
regular de ensino nas unidades escolares, com professores efetivos na Rede – e
o PROSA (Programa Suplementar de Alfabetização).
COMO COMEÇOU EM BETIM
Em
1995, Betim deu início ao Projeto de Educação de Jovens e Adultos (Suplência de
5a. a 8a. série), como eixos o processo de ação – reflexão – ação da prática
educativa; a inclusão de jovens e adultos como sujeitos na relação ensino aprendizagem;
o trabalho coletivo e a formação continuada dos educadores.
foi
extinta a suplência e implantou-se o CEEA - Ciclo Especial de Ensino
Aprendizagem. Posteriormente, essa sigla foi alterada para CEAN – Ciclo de
Ensino Aprendizagem Noturno.
A
partir de 2000 foi definido o referencial curricular para o CEAN II – O
Currículo por Competências.
A
partir de 2001 foi implementando o CEAN
I (Ciclo de Aprendizagem Noturno 1º segmento).
Em
agosto de 2002, o Programa de Ensino para Jovens e Adultos (PROEJA) iniciou seu
atendimento em razão de dados apresentados pela equipe de coordenação dos assistidos
da Bolsa – Escola.
No
CENSO/2000, informava 18.000 habitantes betinenses analfabetos na faixa etária
acima de 10 anos, o maior desafio acordado nesta parceria foi atingir a meta de
20.000 jovens e adultos atendidos.
O
Programa ABC, que inclui PROEJA e CEAN I atendiam estudantes em 2002, em 2003, em
2004 e em 2005.
Em
2002 foi criado o CEAN II - Ciclo de Ensino e Aprendizagem Noturno / 2º
Segmento.
A
partir de 2004, em escolas municipais, como sede de segundo endereço, ficando o
Estado responsável pela gestão pedagógica, a parceria com o Estado era ampliar
o atendimento do Ensino Médio no município.
Assim,
surgem, na Constituição Federal, artigos mais explícitos sobre a EJA (CF, art.
208, § 1º), atribuindo a competência aos poderes públicos no que diz respeito à
disponibilização de recursos para atender a essa modalidade de ensino.
perspectiva
de atender este público e universalizar a oferta de educação básica no
município, a Prefeitura de Betim estabeleceu parceria com a Rede Estadual de
Ensino para implementar, em algumas escolas, o ensino médio na modalidade de
EJA, ampliando a sua oferta.
A
Secretaria Municipal de Educação (Semed) continua, em 2007 com o programa de
Ensino Noturno gratuito para jovens e adultos moradores de Betim.
O
DIA DO DEPOIMENTO DE CARMELITA
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Professor Inês e a Estudante Carmelita |
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é disponibilizada na Escola Municipal Raul Saraiva Ribeiro como oportunidade de conclusão do Ensino Fundamental para quem não teve a oportunidade de fazer antes.
O carinho e satisfação com que a Estudante Carmelita se refere à Professora Inês foi tão comovente que muitos Professores, Técnicos, colocaram seu depoimento dado o entusiasmo e a competência da Alfabetizadora.
O carinho e satisfação com que a Estudante Carmelita se refere à Professora Inês foi tão comovente que muitos Professores, Técnicos, colocaram seu depoimento dado o entusiasmo e a competência da Alfabetizadora.
Sempre há tempo! Através desse depoimento da estudante da aluna Carmelita do EJA da Escola Raul Saraiva qualquer Professor ou colega de Curso a perceber a beleza. Nossa Vice Diretora Juliana Melo se refere ao depoimento como uma lindeza que recebeu naquele dia, parabenizando a Professora Inês pelo êxito no trabalho de Alfabetização de Jovens e Adultos, pela dedicação e paciência. Um saber que tem sabor.
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As colegas produzindo. |
Thiago Fortes, nosso Técnico de Secretaria se referiu ao depoimento de Carmelita como “um show”, acrescentando que essas coisa que fazem o trabalho valer a pena e também parabeniza a Professora Inês.
A professora Cleide diz de tal lindeza e da inexistência de qualquer saber melhor que esse. A professor Inês agradece e direciona o mérito aos alunos, pelo grande esforço e dedicação. Ela acrescenta que se sente muito feliz com o progresso dos estudantes.
A Professora Cláudia, ex-Sala de Recursos do Raul, resumiu: “Emocionante! É lindo!
Participei de tanto deslumbramento acrescentando: “ Que maravilha! Que coisa magnífica! Tinha que ter mais investimento na EJA. Que lindo!”
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A Estudante Carmelita entendo sua formação humana no Raul Saraiva e agradecida com a Professora Inês. |
AS REPERCUSSÕES E MULTIPLICAÇÃO DE NOSSOS TRABALHOS COM EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS.
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Tese da Professora Ana Rafaela Correia Ferreira que trata de nosso trabalho na década de 90 e todo o processo histórico da Educação de Jovens e Adultos em Betim. |
2) Artigo da Professora Ana Rafaela sobre EJA
3) Revista Brasileira de Educação Básica reúne artigos e vídeo sobre equidade racial com a participação de Professores de Betim
4) Ensinar matemática para pessoas jovens e adultas: concepções dos educadores da rede municipal de ensino de Betim (MG) -Ana Rafaela Correia Ferreira* Maria Laura Magalhães Gomes**
3) Revista Brasileira de Educação Básica reúne artigos e vídeo sobre equidade racial com a participação de Professores de Betim
4) Ensinar matemática para pessoas jovens e adultas: concepções dos educadores da rede municipal de ensino de Betim (MG) -Ana Rafaela Correia Ferreira* Maria Laura Magalhães Gomes**
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